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Ministro da Educação foi “omisso” e “covarde” diz ex-presidente do Inep


(Imagem: Marcello Camargo/Agência Brasil)

Por Júlia Schiaffarino, Socialismo Criativo


O ex-presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), Alexandre Lopes, acusou o ministro da Educação, Milton Ribeiro, de ter sido “totalmente omisso” em relação ao Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) 2020.


Apesar de posições contrárias de estudantes e professores à aplicação das provas em meio à pandemia de Covid-19, elas foram adiadas do ano passado para este ano e realizadas em janeiro e fevereiro. Uma série de problemas de organização e segurança foi relatada pelos participantes.



Lopes afirma que Ribeiro adotou uma postura “covarde” como forma de se eximir de responsabilidades. Ele também reclama que por mais de uma vez tentou conversar pessoalmente com o ministro para buscar uma solução, mas foi ignorado. As declarações foram dadas durante uma entrevista ao jornal O Globo.


Lopes foi demitido do cargo depois do Enem. Na última semana foi nominalmente citado em uma nota do Ministério da Educação sobre os problemas desta edição do exame, um dos principais para ingresso em universidades públicas do país. O MEC atribuiu a ele a responsabilidade pelos erros.

“O ministro simplesmente fugiu do Enem”

As provas do Enem transcorreram com diversas queixas de problemas nos protocolos de segurança, além de um número recorde de abstenções. Já no primeiro dia, estudantes relataram, por exemplo, que não havia vagas para todos nas salas de aulas e que o distanciamento mínimo não foi respeitado.


De acordo com Lopes, por mais de uma vez ele tentou uma reunião com o ministro da Educação para falar dos problemas, mas não foi recebido. “O Enem acontecendo no Brasil, em meio a uma pandemia, com todas as dificuldades, e o ministro se recusou a me receber”, disse durante a entrevista.


Um dos episódios mais complexos relatado por ele foi a omissão do chefe do MEC diante do cronograma de provas em Manaus, capital do Amazonas.


O estado protagonizava números alarmantes de enfermos e mortos por conta da segunda onda da Covid-19. Apesar disso, o então presidente do Inep afirmou que seguiu enviando mensagens para o ministro da Educação, mas foi ignorado.


“Ele simplesmente me respondeu ‘ok, vai dar certo’. Foi essa a orientação dele para mim. Foi omisso. O ministro simplesmente fugiu do Enem”, revelou Lopes. “O impacto prático é que eu tive que tomar as decisões sozinho em relação ao Enem”, completou o ex-presidente do Inep.

Faltou orçamento para o Enem 2020

Lopes também reclamou que o orçamento para a organização do Enem era muito inferior ao ideal e, portanto, teria aumentado a carga de trabalho dos funcionários para organização das provas. Em duras críticas ao ministro, Lopes disse que Ribeiro “foi omisso, totalmente omisso”. Ele também afirmou que era contra a realização das provas: “Ao contrário da covardia e da incompetência do ministro Milton Ribeiro, se eu fosse ele, ano passado não tinha Enem.”


Essas omissões relatadas impactaram no quadro administrativo do órgão. “Havia várias questões administrativas paradas há meses que eu falei que estavam gerando problemas para o Inep”, disse Lopes. Como exemplo a demanda por 25 analistas na Comissão Técnica de Avaliação (CTA), que foi repassada para o ministro e que não teve resposta por seis meses.


Na avaliação de Alexandre Lopes, Milton Ribeirou buscou, o tempo todo, se eximir de qualquer responsabilidade. “Acho que ele queria, com covardia, (passar a ideia que) ‘não tenho nada a ver com esse negócio do Enem. Deu errado, eu estava alheio. Ninguém me falou nada’.”

Enem 2021 corre risco

Sobre o Enem 2021, Alexandre Lopes comenta que há um enorme risco do exame seguir com os mesmos problemas. Os números relacionados à pandemia de Covid-19 aumentaram, atingindo índices de mortes alarmantes, o orçamento do Inep segue insuficiente e a instabilidade administrativa persiste. “O planejamento do Enem deste ano está bastante atrasado, tanto da execução quanto da elaboração da prova”, afirmou.



Lopes foi o quarto nome a ocupar a presidência do Inep no governo Bolsonaro. A demissão ocorreu no final de fevereiro. Na ocasião, a Associação dos Servidores do Inep (Assinep) argumentou em nota que “a descontinuidade de gestão, com sucessivos períodos de instabilidade, tem contribuído fortemente para comprometer a execução do importante trabalho da autarquia na Educação”.

‘Milton Ribeiro está acabando com o Inep’

Outro ex-presidente do órgão a criticar o atual ministro foi Marcus Vinicius Rodrigues, primeiro nome a comandar o Inep na gestão Bolsonaro. Também em entrevista ao O Globo ele afirmou que Milton Ribeiro não consegue “ter uma conversa de cinco minutos sobre políticas públicas educacionais” e “está acabando com o Inep”.


Rodrigues ficou no cargo até março de 2019, tendo sido demitido pelo então ministro Ricardo Vélez.


Marcus Rodrigues também denunciou que Ribeiro estaria “colocando para trabalhar com esse pessoal (técnicos do Inep) um bando de pessoas que não sabem nem falar”.


O Inep é o braço do MEC responsável pelas maiores avaliações educacionais do país, como o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e o Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb). Os resultados também são utilizados para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).


Com informações do jornal O Globo

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